O movimento “slow” nasceu nos anos 80 como forma de protesto contra a “fast food”. Nos últimos anos, este movimento alargou-se a outras áreas e acabou por se tornar uma filosofia de vida onde desacelerar é o mote – “slow living”.
A sociedade atual leva-nos a querer fazer sempre mais em cada vez menos tempo e obriga-nos a acreditar que ao abrandar estamos a desperdiçar tempo. Carl Honoré, considerado o pai do movimento “slow”, defende que vivemos numa cultura de competição e impaciência, querendo que tudo seja aproveitado ao máximo e no imediato.
A pandemia do coronavírus obrigou-nos a abrandar. Se antes passávamos os dias em agitação, horas intermináveis no trânsito e a tentar chegar a todo o lado a toda a hora, a crise da covid-19 obrigou-nos a simplificar o nosso dia a dia.
Saber abrandar nasce da necessidade e requer de cada um de nós muita força de vontade. É um novo paradigma de vida que primeiro se estranha, mas, quando se integra na nossa rotina, traz imensas vantagens para o nosso bem-estar.
Aproveite esta “nova normalidade” que agora vivemos e siga estas seis dicas para desacelerar no seu dia a dia.
Vivemos numa sociedade em que a capacidade de se fazer muitas coisas ao mesmo tempo, o multitasking, é sobre-valorizada. No entanto, em termos práticos, enquanto alternamos de tarefa em tarefa, perdemos a noção do que é, realmente, uma prioridade.
É praticamente impossível desempenharmos várias tarefas em simultâneo sem nos esquecermos de algo e sermos eficazes. Por outro lado, deixamos de aproveitar plenamente o que estamos a fazer e focamo-nos apenas em terminá-lo rapidamente e passar à próxima tarefa.
O “slow living” dá-lhe a oportunidade de repensar esta estratégia e focar-se numa coisa de cada vez, sequencialmente e com atenção plena.
Comece por fazer uma lista de objetivos que pretende alcançar ao longo do dia e dê prioridade aos mais importantes. Deste modo, garante que fará o que realmente importa primeiro e deixa as tarefas menos importantes para o fim.
Estes últimos meses conseguiram recordar-nos da importância que as nossas relações interpessoais assumem para uma vida plena e do quão importante é conviver.
A verdade é que até aqui e, eventualmente, depois desta situação, muitos de nós se esquecerão da convivência afetiva. Estarmos presentes num mesmo espaço físico, mas focados nas redes sociais ou na televisão não é o mesmo que conviver em pleno.
Aproveite cada momento com as pessoas de quem gosta, pergunte como correu o seu dia e ouça com atenção. A escuta atenta, a atenção plena e a presença são a base do “slow living”.
Tem ideia de como gasta o seu tempo e de que forma distribui as 24 horas de cada dia? Sabe o que lhe ocupa mais tempo e o que gostaria que ocupasse mais?
Crie um diário de bordo onde anota todas as suas tarefas numa determinada semana e quanto tempo lhes dedicou e levou para as concluir. Deste modo, irá perceber todas as escolhas de tempo que faz e pode decidir onde quer usar o seu tempo e qual a velocidade que faz sentido imprimir a cada tarefa.
Embora algumas convenções sociais não permitam esta flexibilidade, a consciencialização é o primeiro passo para conquistar a sua autonomia temporal e para que seja dono do seu tempo. Consciencialize-se do que é capaz de fazer nas horas em que está acordado e transforme as escolhas que o incomodam.
As tecnologias podem ser as nossas melhores parceiras no que diz respeito à produtividade, mas, se não souber quando desligar, depressa se transformarão nos maiores “ladrões de tempo”.
É frequente decidirmos dedicar cinco minutos do nosso dia às redes sociais e facilmente passa uma hora sem darmos conta. As tarefas seguintes serão feitas em modo piloto automático e depressa para compensar o tempo gasto com as redes sociais.
Assim, se as redes sociais não fazem parte do seu trabalho, faça uma limpeza ao seu telemóvel e remova-as. Deste modo, quando sentir vontade de se desligar do mundo, não será interrompido por notificações que contribuem para dispersar a sua atenção. Por outro lado, poderá sempre reinstalá-las quando quiser.
Cabe-lhe a si garantir mais tempo de presença e atenção plena e fazer uma gestão mais eficiente do seu tempo.
É importante desligarmo-nos não só das tecnologias, mas de tudo o que nos rodeia. O mundo pressiona-nos para correr e parar é sempre visto como um grande esforço.
Lembre-se que “slow living” significa “viver devagar”. Por isso, faça uma pausa e aprenda a apreciar o que o rodeia. Desloque-se mais a pé, contemple a cidade, as pessoas e reflita. Leia, faça uma sesta ou pratique mindfulness.
Permita-se ter tempo no seu dia dedicado a não fazer nada, um tempo em que não se ocupe e não se sinta culpado por isso. Foque-se totalmente na “não tarefa”, sem interrupções e sem pressa.
Cada um de nós tem uma definição diferente de tempo livre e de como desfrutar dos momentos de ócio.
Por exemplo, cozinhar faz parte do dia a dia de muitos de nós e, apesar de poder ser prazeroso, é muitas vezes visto como uma tarefa stressante ou monótona, porque não lhe dedicamos o tempo necessário. Cozinhar exige planeamento, organização e tempo para ser recompensador. Aprenda a apreciar a comida e o próprio ato de cozinhar, experimente novas receitas e explore novos alimentos. Em suma, desfrute.
Desfrutar é o objetivo principal do “slow living” e é o que nos permite aprender e criar experiências novas.
O “slow living” sugere uma vida e trabalho inspirados em valores simples e reais, menos em piloto automático e sem os excessos que nos transformaram numa sociedade competitiva e consumista por impulso.
Abrandar torna-se imperativo na nossa sociedade e, para tal, não é preciso que se mude para o campo ou largue o seu trabalho para se dedicar à agricultura. É apenas necessário que se consciencialize do que é, de facto, importante e imponha limites nas atividades excessivas que concretiza diariamente.
Siga as nossas seis dicas e aproveite a vida e o que o rodeia, sem pressa e com certezza.